quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Vida Na Porta Da Geladeira

Claire, meu bem,

A respiração está um pouco curta. Amanhã vou ao médico de novo.

O James telefonou. Perguntou como eu estava. Tive que me segurar pra não chorar. Ele parece muito gentil.

Mamãe
 
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Claire,


Vou passar mais alguns dias no hospital. A Gina me trouxe aqui para apanhar algumas coisas. Você podia limpar a gaiola do Peter antes de ir para lá? Ele parece meio abandonado.

Não sei aonde o futuro nos levará, mas sei que você ficará bem.

Não poderia ter uma filha mais maravilhosa.

Eu te amo,

Mamãe

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P.S: Eu te amo

Querida mamãe,

Hoje fui à reunião do grupo de apoio e a Mary sugeriu que lhe escrevesse uma carta mesmo que não possa mais entregá-la. Ela disse que eu me sentiria mais próxima de você e que talvez houvesse coisas que gostaria de lhe contar.

Vim escrever em nossa casa, estou sentada na cozinha. A casa já está à venda, mas neste instante posso quase fingir que você está deitada em seu quarto, ou que está trabalhando e estou esperando que você chegue para me contar sobre os bebês que nasceram, ou me dar um abraço. O pior foi quando olhei para a porta da geladeira, à procura de um bilhete seu, e não encontrei nada. A porta da geladeira estava branca e vazia. Fiquei chorando por séculos.

Estou com saudade, mãe. Queria que ainda estivesse aqui com a gente. Gosto de morar com o papai, mas queria que você ainda estivesse aqui. Não entendo por que tiveram que tirá-la de mim, ou por que você teve que ficar doente, ou por que teve que morrer tão depressa quando tanta gente sobrevive a essa doença. Por que teve que ser assim? Como você pôde simplesmente ir embora?

Como pôde me deixar? É como se eu estivesse zangada com você, mãe. Não é uma idiotice?

Você se lembra de como o outono foi mais bonito? De como olhávamos pela janela do quarto à medida que você adoecia, admirando os tons amarelos e vermelhos do nascer do sol? Você lutou tanto, mãe... Odeio que tenha sido tão difícil para você.

O inverno foi longo e frio. Tenho ido à escola, mas parece que estou sempre numa espécie de bruma. A Emma tem sido muito gentil, o James também, e a Gina tem sido ótima, mãe, você não ia acreditar. Mas eles não são você. O Natal foi horrível.

Mary tinha razão. Realmente me sinto melhor escrevendo para você, embora tenha me feito chorar como não fazia há meses. Ela diz que é normal ficar triste, zangada, confusa. Não me parece normal. Não mesmo.

O Peter está bem. Montei a gaiola dele na casa do papai, e, quando faço carinho nele, lembro do verão e do outono que passamos juntas, fazendo aqueles álbuns de fotografia, comendo o que a Gina preparava, tentando nos conhecer melhor. Posso até me esquecer de como foi difícil para você no fim, mas jamais esquecerei de como você foi forte e corajosa. Tenho uma foto de você sentada numa cadeira de rodas no hospital. Seus olhos estão lindos e grandes. Você parece surpresa, mãe, como se tivesse sido pega desprevenida. Parece que nós duas fomos pegas de surpresa.

Queria que tivéssemos mais tempo, mãe. Acho que isso é tudo o que tenho a dizer. Queria ter tido mais tempo para ficar com você. Mas fico feliz pelo tempo que tivemos. Muito feliz. Quando voltar para a casa do papai, vou folhear os álbuns e vou me lembrar de tudo.

Acho que vou deixar essa carta aqui para você. Nesta cozinha vazia. Assim, se você voltar para casa vai saber que eu te amo e que sinto sua falta. Por favor, não se preocupe comigo.

Sua filha,

Claire

  
Li esse livro ontem, e me emocienei com a história e palavras sensíveis que aqui encontramos com facilidade.
Claire, uma adolescente de 15 anos, e sua mãe têm uma rotina muito atribulada. Nos raros momentos em que a mãe está em casa (ela é obstetra), a filha está na escola, com amigos ou com o namorado. 
As duas parecem habitar planetas diferentes, o intenso ritmo da vida só as deixa afastada. E lhes resta a geladeira, onde deixam bilhetes uma para a outra que vão desde "não esquece o dinheiro",  cobranças banais [Oi, MÃE! (Que eu NUNCA MAIS vi!)]  e até descobertas sobre a vida de cada uma. 
Os bilhetes dividem mágoas, amores e recados que nunca seriam ditos pessoalmente. A porta da geladeira se torna o meio de comunicação entre mãe e filha, que mesmo morando juntas, estão sempre distantes e não há diálogo.  Alguns bilhetes são bem simples como lista de compras, outros são mais complexos e tristes. 
A porta da geladeira confidencia momentos tristes e marcantes na vida das duas, confissões e finalmente, o entendimento que apesar de tudo se amam.
Apesar de o livro parecer confuso no começo com a troca dos bilhetes, mas depois quando menos se espera você já se vê envolvida com a vida das duas e vai querendo entender o porquê de tantos desencontros.
A vida delas começa a mudar quando uma tristeza bate a porta sem pedir licença. A partir daí as duas veem quanto tempo desperdiçaram sem ficar juntas, mas também passam a compreender melhor a outra e arrumar tempo para ficarem juntas.
Esse livro fala da nossa falta de tempo. De como somos capazes de arranjar tempo para fazer coisas vis, mas nem um tempinho para dedicar às pessoas importantes da nossa vida. 
 
Orelha do livro:
“Um livro sobre arranjar um tempo para quem se ama quando o próprio tempo está se esgotando...
Se o seu mundo virasse de ponta – cabeça, você seria capaz de se apegar ao que realmente importa?”
 
 

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